RENATO RUSSO 

 

(Publicada em 15 de setembro de 1.997) 

Esta crônica talvez tenha vindo tarde demais. Há tempos penso em escreve-la; aparentemente sem motivo, fico adiando, adiando...

Tudo começou quando eu era adolescente. Era bom ligar o rádio e escutá-lo cantar. Cresci ouvindo rock, e era bom vibrar com “Tempo Perdido”, “‘Índios’”, “Será” ou “Quase sem Querer”. Canções com uma cara pop, rock ou folk e uma letra interessante.

As letras não eram tudo. Eu gostava da voz dele, ficava de olho em tudo quanto é revista em busca de uma entrevista. Lia tudo o que via publicado sobre a banda, conversava com outros fãs e ia colecionando mais e mais informações. Eu gostava do nome da banda, gostava do jeito como ele dançava, achava o máximo ele fugir do padrão carinha bonitinha do mundo da música pop. Eu o achava atípico.

Ele mesmo disse que a Legião Urbana começou imitando bandas inglesas. Lembro-me que um leitor certa vez escreveu para uma revista sobre música e se referiu a Russo como “Renato Mamãe-eu-quero-ser-morrissey-quando-eu-crescer Russo”. Morrissey é aquele que já foi vocalista dos Smiths, banda inglesa. Assim mesmo meu interesse continuava.

Quando criança, fiquei em Brasília seis meses, tratando de minha paralisia infantil. Muito depois, enquanto lia uma entrevista com Renato, descobri que ele morava lá na mesma época. Fiquei exultante. Eu já estivera “perto” dele, o que novamente ocorreria quando ele veio a Patos de Minas. Mas, perto, mesmo, foi no dia 21 de agosto de 1.992, data de um show que a banda realizou em Uberlândia. Após averiguações, descobri em que hotel Renato ficaria. Aguardei por horas e horas sua chegada. Ele chegou, foi logo entrando, assinou algum papel e voltou para conversar com as pessoas que o aguardávamos, pois havíamos sido barrados. Quando ele já estava bem perto, o achei muito magro, e me surpreendi com sua estatura. Eu pensava que ele era alto.

Uma das perguntas que fiz para ele foi se ele se lembrava de ter tocado em Patos de Minas. Ele me olhou espantado e disse que sim. Perguntou-me se eu estivera no show. Quando eu disse que não, afirmando que na época eu tinha uns onze ou doze, ele disse: “Pôxa, tô ficando velho”.

Não ficou. Vou sempre me lembrar dele. Por exemplo: o que me levou a ler Gabriel García Márquez foi uma entrevista concedida por Renato, em que ele elogiou o escritor colombiano; o primeiro disco comprado por mim foi o “Dois”. Faltando pouco dias para ele morrer, cheguei a ligar para a gravadora dele, tentando marcar uma entrevista. Não houve tempo.

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