UMA PERSEGUIÇÃO ANIMAL 

 

(Publicada em 30 de agosto de 1.996) 

É difícil achar alguém que nunca tenha sofrido uma perseguição canina. Estejamos nós em bicicleta, moto ou a pé, eles vêm cima como se fossem capazes de nos engolir. Alguns deles, mais ousados, perseguem automóveis. Alguns se dão mal. Um amigo, certa vez, movido pela mais genuína raiva, rachou o cérebro de um cachorro com um tiro. Chegou a ser preso pelo ato, mas sentiu-se aliviado por ter dizimado o cão.

Sábado passado (24/08), Mário Júlio, locutor de uma emissora de rádio local, contou-me a história ocorrida em plena escuridão da madrugada, ocasião em que ele voltava para casa tranqüilamente. Não sei quando se deu o fato, mas ele é digno de ser contado.

Ele impunha um ritmo calmo a seus passos. Em três ou quatro minutos estaria em casa. Quando tudo parecia estar mesmo sem alguma possível reviravolta, ele ouviu um latido grave, que só poderia ser emitido por um cachorro grande. Virou-se para trás e viu a materialização de seus pensamentos. Era, sim, um animal imenso, vindo da escuridão. Sem pestanejar, já que não havia como pensar duas vezes, Mário iniciou sua corrida noite adentro, enquanto ouvia o cão ladrar como se ladrão perseguisse.

É uma pena não podermos ensinar aos cães a verdade de que só os invasores de lares devem ser submetidos a apuros como esses em que se encontrava o Mário, correndo o mais que podia no caminho que bem conhecia. Quanto mais corria, mais alto ouvia os latidos do voraz cachorro. Mas ele não se entregava, e com o coração disparado, buscava uma energia que ele nem sabia se tinha.

Situação delicada, a dele. Se fosse um cãozinho qualquer, era só correr atrás dele e ver o animal voltar para casa mais veloz do que ao sair. Bem sabemos que ao sermos perseguidos por uma ferazinha exaltada, é fácil e prazeroso fazê-la recuar assustada. É uma pena não tomarmos a mesma atitude ao sermos perseguidos por um cachorrão. Nessas questões, tamanho é documento, e sem conseguir fazer com que suas pernas disparassem mais do que seu coração, Mário ficou pasmado ao ver passar por si o cão que o perseguia. Passou à frente dele como se ele nem existisse.

Ao chegar em casa, ainda com o coração batendo descompassadamente, é que ele pôde desfrutar o alívio de estar o cachorro perseguindo um também assustado gato.

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