PARE O ÔNIBUS! 

 

(Crônica Publicada em 29/3/2008.) 

Uma chuva inclemente e poderosa desabava sobre Patos de Minas. Ventava muito. O barulho das águas sobre a estrutura de metal da rodoviária parecia aumentar a intensidade do que já era portentoso.

O ônibus partiria em minutos. Como sempre fui afoito, estava adiantado quarenta e cinco minutos para o embarque, mesmo com a passagem comprada há dias. Assim que cheguei à rodoviária, a chuva começou.

Seria minha primeira viagem para São Paulo. O ônibus estaciona na plataforma. Sempre inquieto, vou logo me aproximando da porta do veículo. Aguardo alguns minutos; ocupo a poltrona de número três. Foi dada a partida. Após manobras, o veículo parte.

No exato momento em que o motorista deixa as dependências da rodoviária, mal pegando a Avenida Piauí, um homem vindo lá da parte de trás do ônibus começou a gritar, suplicando ao condutor que parasse. Houve medo, risadinhas, susto. Não fazia sentido, debaixo de um pé-d’água daqueles, alguém pedir para que o ônibus parasse, ainda mais que havia acabado de embarcar. Indo rápido pelo corredor e gritando sempre, o homem, de uns trinta anos, chegou a causar falta de ar numa senhora que estava numa poltrona perto da minha.

Burburinhos, cochichos... Quando chegou até a divisória entre o motorista com seu auxiliar e os passageiros, o homem tentou logo abri-la. Talvez por estar afobado demais, não conseguiu. Com as mãos, ao mesmo tempo em que insistia no apelo para que o ônibus parasse, batia forte no vidro; as cortinas da divisória não deixavam que se visse o outro lado. Assustado, o auxiliar de viagem abriu a portinhola.

– Pare o ônibus.

– Não posso, meu senhor. Além do mais, cai um dilúvio lá fora.

– Não importa. Preciso descer.

O passageiro estava impaciente, ofegante, gesticulava muito, falava alto.

– Meu senhor, não tenho autorização, não posso parar aqui. O senhor tem bagagem?

– Tenho.

– Não tem como pegar sua bagagem debaixo dessa chuva toda.

O clima era de apreensão.

– Eu largo a bagagem. Preciso descer. Minha mulher tinha brigado comigo e me mandou embora. Mas mudou de idéia.

– Ela ligou pro senhor?

– Não! Ela está lá fora, debaixo de chuva, correndo atrás do ônibus na bicicleta dela.

Enquanto falava, o passageiro olhava com insistência para fora. O ônibus estava parado no semáforo da Piauí com a Barão do Rio Branco. Conversa daqui, conversa dali... Após consulta com o motorista, o auxiliar diz ao passageiro:

– Vamos parar num posto logo ali.

O passageiro vai lá atrás. Na volta, traz uma pequena mochila. O ônibus estaciona nas dependências do posto. O homem agradece rápido ao motorista e ao auxiliar. Veloz, corre direto para a mulher, que estacionara a bicicleta perto de uma bomba de gasolina. Quando se abraçaram, houve, dentro do ônibus, algumas palmas.

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