ZEZÃO 

 

(Publicada em 7 de julho de 2.000) 

Ele foi um cachorro. Pelo design, parecia ser uma mistura de bull-dog com vira-lata. Não era muito grande nem muito pequeno, tinha cor amarelecida. Não atacava ninguém nem outros cães.

Mesmo assim era um cachorro que chamava muito a atenção. Primeiro motivo: ele tinha um defeito na pata direita da frente. Acho que por atropelamento. Ele mancava. Sua pata jamais tocava o chão. Segundo: ele era bom de briga. Não sei precisar por qual dessas razões a fama dele se multiplicou. Pelas duas, não? Era surpreendente ver um cachorro que mancava ser capaz de surrar gente bem maior e bem mais equipada do que ele.

Zezão não perdia uma briga. Como dito, não era grande, mas era encorpado. Eu o vi enfrentar cães de nobre estirpe, cheios de pomba, de status, de pose, de essências aromáticas. Zezão não estava nem aí pra isso. Encarava quem quer que fosse, vindo de onde for, com sabedoria e com coragem. Cães vinham de longe para testar o poder de Zezão. E voltavam para casa derrotados. Jamais humilhados.

Zezão chamava a atenção pela discrição. Só brigava se requisitado. Não era desses cães chatos que não são de nada e ficam correndo atrás de qualquer um ou de qualquer coisa. Não. Zezão não.

Ele me intrigava. Era meu ídolo de infância. Era meu herói. Não sei quantos anos eu tinha, mas sei que na época eu pensava que o segredo da força dele era comer muito feijão. Eu achava que ele tinha cara de quem comia muito feijão.

Eu ficava ansioso para ser uma testemunha da próxima briga de Zezão. Houve vezes em que pensei que ele não conseguiria. Mesmo quando ele bateu no pequenês que havia lá em casa, não fiquei com raiva do Zezão. Lulu (o lá de casa) era encrenqueiro, achava que podia peitar qualquer um. Escapulindo da coleira, foi dar uma de bravo com o Zezão. Sangrando, o jeito foi Lulu voltar com o rabo entre as pernas.

Zezão, este é meu tributo. Homenagem aquém do homenageado. Quando foi que você morreu? De qualquer modo, obrigado, Zezão.

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