TEMPO 

 

(Publicada em 23 de junho de 1.995) 

Li recentemente que um senhor de 90 anos (não me lembro do nome dele) ganhou um concurso literário e teve seu romance publicado (também não me lembro do nome do romance). O livro foi muito elogiado pela IstoÉ. Obteve algum reconhecimento aos 90 anos, aquele homem.

Citei esse exemplo porque ultimamente tenho pensado muito no tempo que as coisas levam para acontecer. Há quem se estabilize na juventude, há quem se perca na velhice. Sempre há tempo para uma reviravolta; o imprevisto não escolhe idade. Quem, por estar velho, pensa que se sabe por completo, pode ainda estar sem conhecer seu melhor. Ou pior.

O tempo modifica cores, esculpe estalactites, dizima estrelas. O mesmo tempo que nos transforma, enrugando a pele ou tornando brancos os cabelos, nos dá a oportunidade de nos lapidarmos.

O que hoje sou
não faz de mim
outro do que fui.
Sou hoje o mesmo,
só que melhorado.
O ter melhorado
não me torna outro.
O diamante lapidado
vale mais não por que
deixou de ser diamante,
mas por que foi lapidado.
E mais: o melhor nesse dia
de hoje não é saber o quanto
sou melhor e maior,
mas a noção do quanto
posso ser ainda
maior e melhor.

Paciência cabe no tempo. Dinamismo cabe na paciência.

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® 2005 
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