UM MENINO 

 

(Publicada em 1 de dezembro de 1.995) 

Houve uma época em que eu trabalhava aos domingos, às sete horas. Lembro-me de como era trabalhoso acordar cedo em plena manhã de domingo, num tempo em que eu tinha folga aos sábados. Muitas vezes eu nem dormia; era da farra para o trabalho. Também terrível era levantar-me em dia frio e chuvoso. Dava uma vontade de ficar sob as cobertas. Cada minuto sob as mesmas era imensamente usufruído. Levantar, só quando o último pingo de areia passasse por aquela ampulheta dominical.

Num daqueles dias frios levantei-me sonolento. Chovera durante a madrugada, mas, quando saí, não chovia. Assim que saí de casa pude ver um garoto vizinho meu, vindo de uma rua contígua à rua em que moro. Menino peralta, desses que desconhecem acanhamento, conversam com todos. Vi que ele dizia algo, mas não pude perceber o que era. Como eu estava em bicicleta, e ele, a pé, foi fácil alcançá-lo. Ao me aproximar dele, diminuí a velocidade para escutar o que ele alegremente dizia. Era o seguinte: “Bom dia. Acorda, gente!” Em toda casa pela qual passasse o garoto desejava bom dia e dizia aos moradores para se levantarem. Fui me distanciando dele até não mais escutar sua voz.

Ele, cedo na rua numa manhã fria de domingo. Ao escutá-lo e vê-lo tão disposto num dia em que eu estava tão apagado, animei-me, fui contagiado pela disposição do garoto. E tive um bom dia.

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