LÍVIO, LUZIA, MAGALY, VILMAR 

 

(Publicada em 12 de setembro de 1.998) 

Tudo começou quando eu procurava dois textos de Antonio Maria. Revirei e revirei velhas pastas. Não achava os textos, mas deparava coisas que nem me lembrava mais de ter. Algumas, reli. Então, justamente quando eu já estava quase desistindo, encontro uma velha fotografia. Achei tão bom revê-la que quase decidi deixar para uma outra ocasião os textos de Antonio Maria. Entretanto, coloquei a foto sobre a escrivaninha e voltei à caça das crônicas. Achei-as. Satisfeito, as reli. Além dessa pequena parte da obra dele, conheço uns trechos seus publicados numa crônica de Luis Fernando Verissimo. Terminada a releitura dos textos de Antonio Maria e da crônica de Verissimo, apanhei novamente a foto.

Um tom meio amarelo. Não sei se foi feita assim ou se é obra do tempo ou as duas coisas. Eu e mais três na foto. Éramos colegas de sala, e naquele momento estávamos na fazenda de um outro colega. Nossos corpos eram ingênuos, nossas caras ainda não haviam crescido.

Releio para perceber o que estava nas entrelinhas e não percebi, talvez por falta de maturidade. Faço agora a releitura de uma imagem. Assim como reler nos ensina, sinto que há coisas na foto que ficaram para trás, sem que eu tenha conseguido as revelar.

Fotografias. Dão um clique na saudade e iluminam o passado com seu flash. E estou reparando... Eu ouço risos, me lembro de gestos, me recordo de falas. Todos vêm do passado, de um passado estático sobre minha escrivaninha. Vejo o passado e volto para o presente.

Nossas diversões são outras, nossos caminhos não se coincidem mais, nossa distância vai aumentando. Dou uma última olhada na foto. Queria sentir saudade também do(a) fotógrafo(a). Embora tenhamos estado frente a frente, nem a foto (espelho que reflete sempre o mesmo instante) nem a memória o(a) trazem. Numa dessas andanças vou me lembrar dele(a) ou mesmo estarei em sua companhia – talvez sem suspeitar ser ele(a) quem desencadearia minha saudade.

Já é hora de guardar o passado de novo. É madrugada; devo dormir. Daqui a pouco terei de estar de pé. Largo a foto, mas o pensamento está no passado, tirando fotografias. Não muito nítidas, evocando acontecimentos fora de ordem cronológica, evocando cenas fugazes. De um pulo só passo para o futuro, recomeço com os velhos ideais, tirando fotografias. Não muito nítidas, evocando acontecimentos fora de ordem cronológica; evocando cenas fugazes.

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