Não 
                                                          sei há quanto 
                                                          tempo conheço 
                                                          Cláudia Regina, 
                                                          mas desde que a conheço 
                                                          a vejo às voltas 
                                                          com livros e com seu 
                                                          senso de humor. Eu já 
                                                          disse pra ela que esse 
                                                          senso de humor deveria 
                                                          ser usado para ganhar 
                                                          dinheiro. Geralmente, 
                                                          quando digo isso, ela 
                                                          vem sempre com uma de 
                                                          suas tiradas.
                                                          Raramente escrevo textos 
                                                          sob encomenda. Um dos 
                                                          poucos, talvez o único, 
                                                          foi um texto que publiquei 
                                                          neste jornal, sobre 
                                                          o dia dos pais. Tenho 
                                                          agora a tarefa de escrever 
                                                          sobre um assunto que 
                                                          me foi encomendado pela 
                                                          Cláudia, e estou 
                                                          com a sensação 
                                                          de que o texto pode 
                                                          não agradá-la, 
                                                          mas vamos lá.
                                                        Cláudia 
                                                          e eu estávamos 
                                                          aproveitando o tempo 
                                                          disponível para 
                                                          dar um giro pela faculdade. 
                                                          Assim que nos encontramos, 
                                                          ela me pediu para escrever 
                                                          uma crônica sobre 
                                                          a saudade que ela já 
                                                          estava sentindo do curso 
                                                          de Letras. Ela disse 
                                                          que às vezes 
                                                          tenta se refugiar desse 
                                                          sentimento, indo a lugares 
                                                          onde ele poderia cutucar 
                                                          menos. Embora eu não 
                                                          esteja me formando, 
                                                          penso ter uma idéia 
                                                          do que anda tomando 
                                                          conta de Cláudia. 
                                                          Eu, quando terminei 
                                                          o segundo grau, senti 
                                                          algo parecido. Tenho 
                                                          a impressão de 
                                                          que o que se passa com 
                                                          ela é aquela 
                                                          sensação 
                                                          que toma conta da gente 
                                                          quando estamos perto 
                                                          do fim de algo que foi 
                                                          tão bom, sem 
                                                          que nos déssemos 
                                                          conta. Nessas horas 
                                                          até nos esquecemos 
                                                          dos problemas que existiram, 
                                                          e percebemos que gostávamos 
                                                          muito mais da turma, 
                                                          da escola e dos professores 
                                                          do que suspeitávamos. 
                                                          Nesses momentos vemos 
                                                          morrer instante após 
                                                          instante um tempo que 
                                                          nos tornava felizes. 
                                                          A emoção 
                                                          é o que passa 
                                                          a ditar as ordens. Seduzidos 
                                                          por ela, sobra para 
                                                          nós um misto 
                                                          de dever cumprido e 
                                                          saudade.
                                                        A gente 
                                                          se lembra dos colegas 
                                                          e não raro um 
                                                          leve sorriso aflora. 
                                                          Até nos damos 
                                                          conta do quanto fomos 
                                                          intransigentes, pouco 
                                                          gentis ou desrespeitosos. 
                                                          Toda raiva vai embora, 
                                                          todo rancor se dissolve. 
                                                          Pode ser que isso não 
                                                          ocorra com todo mundo, 
                                                          mas creio ser isso o 
                                                          que se passa com a Cláudia.
                                                        Lembramo-nos 
                                                          das coisas engraçadas, 
                                                          dos apertos, daquela 
                                                          professora que era um 
                                                          saco, e nos damos conta 
                                                          de que todos escrevemos 
                                                          uma história, 
                                                          e que um dos capítulos 
                                                          está se fechando. 
                                                          Enquanto durou, um só 
                                                          encontro, uma só 
                                                          trama.
                                                        Não 
                                                          há como se refugiar 
                                                          da saudade, Cláudia. 
                                                          E valorize o encontro, 
                                                          pois o reencontro vem 
                                                          por aí.