SALVO PELA REFRAÇÃO 
 

(Publicada em 7 de fevereiro de 1.998) 

Quando eu cursava o primário do Frei Leopoldo, na época em que a escola ficava na Minas Gerais, esquina com avenida Brasil, a luz do Sol passava pela janela e chegava até minha carteira. Eu pegava então uma caneta e fazia a luz passar por ela, criando um pedacinho de arco-íris sobre a escrivaninha da escola. Eu girava a caneta, mudava-a de posição; às vezes, pegava duas, tentando misturar as belas cores. Não me lembro bem se foi no primário ou se foi quando eu já estudava no Polivalente. Mas sei que de algum modo ficou em minha cabeça que aquele fenômeno estava ligado ao que já é conhecido como refração.

Neófito em vestibulares, decidi tentar a aprovação em janeiro deste ano, aqui em Patos de Minas. Cheio de despreparo, cheguei pela manhã à faculdade. O primeiro dia de prova seria para mim decisivo. Provas de língua portuguesa, de literatura brasileira e de redação. Provavelmente por isso, um certo nervosismo senti. Eu sabia que não me sairia bem nas provas de matemática, de física, de história, de geografia, de biologia e de química, por não ter feito nenhum cursinho e por tê-las estudado apenas no primeiro ano do segundo grau. A partir do segundo ano eu estudaria, em grande parte, somente as matérias que diziam respeito ao curso. Após interrupções, recebi o diploma de técnico em edificações no ano de 1.993.

Como esperado, fui mal na prova de matemática. Mas na de física, fui pior. Tirando zero em qualquer matéria, eu estaria fora do páreo. Parti então para a duvidosa atitude de marcar apenas a mesma letra em todas as questões, tentando fugir do “zeramento” de uma forma execranda. Só que a prova de física, encasquetei que conseguiria resolver algumas questões. Uma delas, a seguinte: “Um raio de luz ao atravessar um prisma de vidro, sai em uma direção diferente daquela que tinha ao atingir o prisma porque sofre...”. Marquei a letra d: refração. Fiz essa escolha por me lembrar da luz que entrava pela janela da escola e passava pela caneta. A verdade é que as cores do arco-íris eram então criadas pela dispersão, como bem me explicou o professor Geraldo de Arvelos. Mas eu me lembrava de um dia ter aprendido que a refração fazia parte de toda aquela beleza.

Errei todas as demais questões da prova de física. Fui aprovado por um raio de luz. Viva o precursor Newton! Viva a física! Viva a luz! Salvo pela refração, descobri os encantos da dispersão.

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