OS DOIS 
 

(Publicada em 6 de setembro de 1.996) 

Eles se vêem há mais ou menos doze anos. No começo, ele mexia com ela, que nem dava bola. Por ela agir assim, ele lhe dirigia palavrões que não podem ser publicados por este jornal. Ela, por sua vez, pensava impropérios também impublicáveis.

Aproximadamente oito anos depois se tornaram colegas de sala. Ele se sentiu, a princípio, pouco à vontade, e ela não deixou por menos: fez questão de comentar com ele sobre a época em que não se entendiam.

Como colegas de sala, entenderam-se. Ele estava, naqueles tempos, se interessando por todas. Portanto, não haveria problema em se interessar por ela. Com o passar do tempo, entretanto, ele ia percebendo que a morena de olhar calmo tomava conta de seu pensamento. Olhares sugestivos tornaram-se comuns; pretextos para se aproximarem um do outro não faltavam. Passariam a fazer juntos provas e trabalhos. Estendendo a comunhão, começaram a namorar.

Viam-se todos os dias, e contrariando as artimanhas dos teóricos, faziam com que a saudade aumentasse entre um dia e outro. Por essa época, brigavam devido a um fortuito namoro entre ela e um amigo de ambos, ocorrido um pouco antes dessa história de provas e trabalhos escolares feitos a dois. Com o passar dos tempos as brigas eram geradas por outro fatores, principalmente alcoólicos. Por vezes tinha-se a impressão de que o que destruiria o relacionamento deles não seria uma nota ruim. O álcool perdeu.

Fortalecida a relação, não permitiram que se acabasse o que já era um noivado. Iniciaram a construção de uma casa, daquelas bem demoradas, comprando aos poucos os materiais. A casa já tem teto. O acabamento vai demorar a ser terminado. Já pensam na cor das paredes, eletrodomésticos e móveis. Tudo vindo aos poucos, de mansinho, como geralmente ocorre com o amor. Gostam muito um do outro e ousam crer no relacionamento. Oxalá consigam manter longe deles a falta de entusiasmo, a iniqüidade. Tomara que consigam alimento, paciência e felicidade.

Quando a deixa em casa, ele só vai embora depois que ela acende a luz. Qualquer dia desses vão apagá-la juntos.

anterior      próxima                  
® 2005 
-   -  Lívio Soares de Medeiros  - Todos os Direitos Reservados