UM DIA DE CÃO 
 

(Publicada em 9 de agosto de 1.996) 

Disse Jerry Lee Lewis: “Eu costumava ter de beber uma dose de tequila para ficar sóbrio”. E foi com essa sobriedade que eu me dirigia para casa na madrugada do dia 29 de julho, pois eu e um amigo havíamos tomado três cervejas. Em meu caso, uma cerveja e meia é o bastante para que eu fique sóbrio.

Desci a Silva Guerra e segui pela Duque de Caxias. Cheguei em casa rapidamente, e antes mesmo de abrir o portão chequei a hora. Três da madrugada, e pensei em ligar a televisão assim que entrasse em casa.

Apanhei minhas chaves, e quando estava prestes a destrancar o portão, vi um cachorro que vinha em minha direção. Se fosse uma pessoa, eu diria se tratar de um ser humano de estatura média, e para que vocês tenham uma idéia do tamanho do animal, afirmo que ele era um cão de tamanho médio. Como ele vinha sem rosnar, calmamente e abanando a cauda, não temi sua aproximação. Quando estava próximo a mim, mostrou-se ressabiado, como que pensando com seus botões se aproximaria-se mais ou não. Ainda balançava a cauda. Curvei-me e tentei uma aproximação, estalando os dedos e o chamando com tom e palavras típicos. Deixando de lado sua desconfiança, ele se permitiu ser tocado por mim e mostrou contentamento. Afaguei por alguns instantes seu pêlo marrom e disse-lhe que iria pra dentro. Destranquei o portão, ele demonstrou interesse em entrar. Por um momento me senti tentado a deixá-lo vir para dentro, mas pensei que ele poderia ter dono, ou mesmo que não poderia ser aceito pelo restante da família. Deixei-o de fora, guardei a bicicleta num cômodo separado da casa. Quando destrancaria a porta, vi que o cachorro permanecia em frente à minha casa, observando-me de forma contente. Como o portão de casa mais se parece com uma grade, era fácil vê-lo. Quanto mais eu olhava, mais eu tinha vontade de passá-lo para dentro.

Abri a porta, larguei-a aberta e corri o mais silenciosamente que pude até a cozinha, para apanhar um pão para o cachorro. Corri de volta. Ao sair para revê-lo, ele não estava mais onde esteve. Fui até o portão e, sem destrancá-lo, chamei pelo cão, elevando um pouco a voz.

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