29/05/94 
 

(Publicada na primeira quinzena de junho de 1.994) 

O ônibus estava lotado. Gente cansada. Festa na cidade. Fenamilho, e o cansaço de fim de festa era evidente no quase silêncio do ônibus que seguia pelas ruas, despejando lá e acolá um ou outro passageiro.

Chegada a minha vez, desci e comecei a caminhar pela fria madrugada. A neblina era densa, reduzindo drasticamente a visibilidade. Caminhando ligeiro, afoito para chegar em casa, olhei para o céu. Noite clara, de Lua e de estrelas no farto céu. Não havia vento, as folhas das árvores recebiam estaticamente o sereno da muito fria madrugada.

Devido à festa, o movimento nas ruas era intenso. Pessoas iam e viam e trespassavam a neblina, o grande acontecimento daquele dia. Neblina intensa, espessamente fazendo-se ser vista e impedindo-nos da correta visão das coisas próximas. E naquela hora, naquele dia, dei-me conta: diante de mim, uma das mais belas madrugadas de toda minha vida! As luzes da cidade incidindo sobre a eloqüente neblina eram como a luz do Sol a incidir sobre espessa fumaça. O efeito era o mesmo, e observável em todas as luzes – nas dos postes e nas dos veículos. Por entre os galhos das árvores, luz e neblina formavam o mesmo espetáculo, e nas luzes dos automóveis, o mesmo se fazia colorido. Tudo era então fascinante. Para completar a imensa beleza daquela hora, a neblina não permitia muito enxergar, o que causava a sensação de se estar adentrando algo desconhecido, como se os próximos cem metros fossem algo definitivamente misterioso, propenso a nos revelar uma grande surpresa. E toda essa indefinição e incerteza contrastavam com a claridade do céu. Mistério no distante céu e nos próximos passos.

Foi uma belíssima madrugada.

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